Ontem tive uma daquelas conversas com a minha mãe.

Ela começou, eu dei umas achegas e disse-lhe que estava farta de ser esquecida, usada, posta de lado, que nunca tivessem tempo para mim nem para perguntar como foi o meu dia, que sempre me dissessem o que não sei, não consigo ou não faço bem, que só apontassem os meus erros, os meus defeitos, as minhas lacunas, que considerassem sempre que as minhas decisões são mal tomadas, aéreas, influenciadas, que se faço é porque tenho a mania, que se não faço é porque sou dependente e tenho de espevitar para a vida, que estou farta de ser sempre eu a procurar, a agradar, a buscar, a acarinhar, a consolar, a ouvir, farta que ninguém me diga que valho para alguma coisa, que sirvo para algo mais do que fazer recados e ser criada e mesmo assim o que faço está mal feito, farta que ao logo dos 365 dias do ano não encontrem 5 minutos para dispensar comigo. Farta que me digam que quando nasci ela quase morreu e a culpa é toda minha e que devo vassalagem.

Estou triste, apática, sentida, magoada, mas não gosto que gritem comigo ao telefone só porque o patrão chateou, um falou mais áspero, o outro ignorou. Não gosto que me utilizem como saco de pancada, que considerem os meus desejos e as coisas que dou valor como superfulos e insignificantes.

Não estou bem, estou revoltada, sentida, magoada, triste. Não estou mesmo nada bem, não gosto de estar assim, não gosto destes sentimentos, da forma como me fazem sentir e agir.

Não, não estou mesmo nada bem...