Quem segue este blog às mais tempo, quem me conhece pessoal ou virtualmente melhor sabe que a infertilidade é uma realidade na minha vida.
Ah, mas tens 3 filhos. Sim, graças a Deus tenho, mas dois deles foram "conseguidos" recorrendo a técnicas de procriação medicamente assistida.
Desde que me conheço sempre quis ser mãe. Queria ser bailarina, professora, médica de bebés (não sabia o que queria dizer a palavra pediatra na altura), mas mãe vinha sempre no primeiro lugar. Até dizia que ia ter um menino com 20 anos e uma menina com 22. Pois.....a vida não quis assim.
Com 20 estava na faculdade, com 25 casei-me. Eu tinha atingido uma estabilidade a nível profissional, ele estava a estudar, decidimos esperar um anito, mais ou menos. Depois começamos a tentar e nada. Mas estão isto de ter filhos não era fácil? A mecânica da coisa até nem é difícil de perceber, porque raio eu não engravidava?
Decidi ir ao médico, até porque para se ter uma gravidez calma convém que se esteja com saúde e veio o diagnóstico:
infertilidade. Mas que raio de palavrão era este? Então não era aquela coisa que acontecia nos filmes americanos, em que os casais iam ao médico e depois tinham meia dúzia de filhos e a vida era fácil e cor de rosa? Não, não era, não não é. É uma doença que atinge um grande número de homens e mulheres e que é subentendida, e que ao contrário da crença popular não passa por se ir de férias.
Foram três anos e meio de tentativas, de injecções, de medições de temperatura, de relações programadas, de exames, de ecografia, e de IIU (inseminação intra-uterina). Uma gravidez anemebrionária e uma curetagem até conseguir ficar grávida do meu filho mais velho. Foi uma gravidez atribulada mas tudo terminou bem e em Janeiro de 2007 fui mãe de um menino lindo, esperto e que não gostava nada de dormir (ainda não é grande fã).
Depois comecei a pensar ter um segundo, até porque sempre quis ter um casalinho. Nada, nada acontecia e lá recorri novamente à ajuda médica, mais exames, ecografias, injecções, relações programadas e de IIU. Em Novembro de 2010 nasce a princesa. Foi o coroar de todo o esforço.
Então e depois? Depois nada, tínhamos os nossos amores, um casalinho, estávamos bem. Mas em 2013 a minha vida passou por mudanças a nível profissional que me fizeram ver a realidade das pessoas e a minha saúde debilitou-se com isso. Estava a tomar a pílula, tinha enxaquecas brutais e tive de recorrer a uma médica especialista para me ajudar, perdi um dente e tinha a garganta fechada com uma enorme crise de amígdalas. Nunca pensei, nunca imaginei que fosse nesta altura mais melindrosa que o milagre acontecesse, eu tinha conseguido engravidar sozinha (ok, não foi sozinha), não tinha tido ajuda médica.
A ficha demorou a cair e a gravidez não foi calma, mas em Novembro de 2013 nasce o príncipe mais novo.
E agora? Agora, mais ou menos por esta hora, devo estar a ser chamada para a cirurgia que me irá impossibilitar de ter mais filhos. Vou fazer uma laqueação das trompas. Porque não queremos nem podemos ter mais filhos, porque a pílula resulta mas provoca-me efeitos secundários muito aborrecidos (enxaquecas), porque o DIU já usei mas nem durou um mês já que o meu corpo o expeliu.
A vida tem ironias, esta é uma dela. Depois de tanto chorar, de tanto querer, agora vou de livre vontade e conscientemente tornar impossível engravidar novamente.
A vida daqui em diante só me pode mandar coisas boas.
Para todos aqueles que ainda lutam, não desistam, porque nunca sabem o que de bom a vida vos reserva. A infertilidade trouxe-me muito choro, mas também me trouxe amizades.
Beijos e desculpem o testamento.