Olho para a minha bebé pequenina, branquinha quase transparente, que nasceu carequinha e vejo uma menina. Uma menina crescida, linda, senhora do seu nariz, decidida, faladora, com uma gargalhada deliciosa (que quero manter sempre), de sorriso fácil, com brilhos nos olhos, curiosa, inteligente, perspicaz.
Olho para ela e o meu coração enche-se de amor e medo.
Amor por quem ela é. Pela menina linda que vejo a desabrochar a cada dia.
Medo, muito medo, pela sua fragilidade, pelos seus sentimentos menos expressos que ficam fechados lá dentro a fazer mossa, num coraçãozinho desde já enfraquecido com o sopro que o caracteriza desde a nascença.
Medo de não ser capaz de lhe apaziguar as tristezas, as angústias que lhe chegam.
Medo de não ser capaz de a proteger, dos miúdos, dos graúdos. Daqueles que confundem o seu feitio assertivo de escorpianita com má educação, como se ela fosse um cavalo a ser domado, no ímpeto de quem a quer dobrar até quebrar. De quem se esquece que ela é uma criança activa, mexida, sonhadora, destemida e que aquele furacão de risos e cantorias, só é sinónimo de uma felicidade própria da infância que assusta os adultos obtusos, tristes com medo da felicidade.
Medo de não conseguir
chegar lá. Sei (e assim espero) que ela terá bons amigos com quem desabafar, mas tenho medo de não conseguir ligar-me a ela, de forma a que ela saiba que sempre estarei de braços abertos e coração quente para a receber. Que posso dar colo a um milhão, mas ela será sempre a jóia na minha coroa.
Medo que nestas coisas de meninas isto, meninas aquilo, ela se esqueça de quem é, do que a caracteriza. Que se sinta a menos, a mais, inferiorizada, menosprezada. Medo que ela não veja a beleza que tem, a menina linda que é. Que lhe roubem a sua individualidade.
Medo do tempo que corre e não dá tempo para nada.
Medo que ela se esqueça que é a nossa Princesa. Que se esqueça que todas as meninas usam uma coroa, só que algumas são apenas mais vistosas que outras.
Medo, muito medo de não ser capaz de lhe transmitir o grande amor que lhe tenho.
Quase uma mão cheia de anos. Uma mão cheia de anos de cor-de-rosa, algodão doce e das mais deliciosas gargalhadas que ouvi na minha vida.
Amo-te do fundo do coração